terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Um Brinde ao Futuro

CLARINHA,
Um Brinde ao Futuro

Clarinha é claramente semelhante aos pais. A figura feminina impera. Rosas e balé, dinheiro e religião. Assim instruíram-lhe. Delicadeza e um sorriso literalmente cativo. Outras vítimas das mazelas das periferias a mesma sorte não tiveram. Acreditar na compensação da obediência e da submissão perpetua os mecanismos de opressão e de desigualdades. Certamente que há dicotomia entre o conhecimento e a fé. Quanto maior a procura pelo primeiro, maior a distância do último, que representa o caminho, a verdade e a vida.
Clarinha não foge à regra. Com quinze invernos em pleno verão – e com notável temor à benevolente ira da onisciência divinal –, entrega-se aos impulsos homoafetivos que a afligem desde a infância. Embora seus pais, do contrário lhe instruísse, ainda assim a pobre luxuriante menina, por alguma razão, não teme o abominável pecado da contradição da predestinação do homem para a mulher e da mulher para o homem. Também pudera! Seus pais, em si mesmos, oprimiram o desejo de desejar a mesma carne.
Clarinha enseja-se das curvas e rachas das descendentes, de barro, da costela de Adão. Envida-se delas sem prejulgá-las. Experimenta posições. Esvai-se de sensações pecaminosas. Goza-se. Se seus pais invertem valores comportamentais, por que, então, Clarinha privar-se-ia de seus anseios? Afinal, enganar-se adianta se a corrompida sociedade não fizer o mesmo? Ou, talvez, seja mais prático excomungar aqueles que não têm medo de serem menos infelizes...
Leonardo Nascimento

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