Espaço Pistas da História

Bomba atômica - 65 anos

‘Uma arma é um inimigo, mesmo para quem a possui.’
Provérbio turco, Oppenheimer e a bomba atômica em 90 minutos, página 88.

A bomba atômica foi um grande erro causado por um conjunto de interesses políticos, que emergiram justamente na época em que a ciência florescia, apresentando inovações em velocidade nunca antes vista. Sinceramente, foi um erro que pode ser atribuído a toda humanidade. O que espero com esta postagem que você está prestes a ler é que seus efeitos devastadores sejam analisados em um contexto mais filosófico do que a prática, pois num mundo tão racional, movido pelos ponteiros do relógio e pela incessante busca por resultados, é preciso voltar de vez em quando refletir sobre o papel do homem neste planeta. Atribuir os efeitos da bomba atômica a este ou aquele cientista, não é esse o meu propósito, até mesmo porque a vida oferece muitas surpresas e muitas vezes nada agradáveis, digo isso com relação ao destino da vida dos protagonistas desta história; meu objetivo como já mencionei é revelar as diversas facetas da história e mostrar suas vertentes, curiosidades e procurar transmitir a história sob vários aspectos, o lado de quem pratica e de quem sofre a ação, no caso o primeiro são os norte-americanos e o segundo os japoneses. Sigam em frente e descubram a causa e efeito do poder devastador da Fat Man em Hiroshima e Nagasaki, boa leitura!

BOMBA ATÔMICA – TRANSFORMAÇÃO DE UM REATOR NUCLEAR NUMA CARCAÇA METÁLICA

Na ciência, as descobertas se dão por meio de muita pesquisa e, quando os prognósticos não são suficientes para prever o resultado de determinada experiência, só há um meio de comprovar as teorias: praticando.
Foi o que fizeram o radioquímico alemão Otto Hahn (1879-1968) e sua colega austríaca Lise Meitner (1878-1968), na década de 1930, que bombardearam o núcleo do urânio com nêutrons, na expectativa de produzir algum elemento novo que fosse mais pesado do que o urânio original.

No entanto, Meitner viu-se obrigada a fugir da Alemanha em 1938 por ser judia.
Hahn, como bom colega continuou a informar a fugitiva, que percebeu o que havia acontecido com o final da experiência.

Hahn afirmou que o urânio havia produzido outro elemento, o bário, pesando cerca de metade do peso do urânio. Para Hahn, a experiência não foi bem sucedida, porque o objetivo era produzir um novo elemento mais pesado e o produto foi um novo elemento com metade do peso.

Porém, Meitner percebeu o resultado de outra forma: o núcleo do urânio havia se dividido em dois, processo que ele batizou de fissão nuclear, daqui a pouco explico como foi o processo de obtenção do urânio.

Também notou que havia uma quantidade enorme liberada no processo: cada núcleo individual do urânio, havia liberado cerca de 200 milhões de elétron-volts.
Quando Bohr, que havia esboçado e publicado o processo, soube que Hahn e Meitner colocaram-no em prática, percebeu suas impressionantes implicações: uma explosão sem precedentes poderia ser provocada.

Pior do que isto: este processo agora era conhecido na Alemanha de Adolf Hitler. Em pânico, Bohr ligou para Einstein, em Princetown, advertindo-o sobre as possibilidades de sua fórmula cair em mãos nazistas.
Einstein, que tinha um enorme prestígio no meio acadêmico e mais do que isso, prestígio mundial, nada cético com relação à Bohr, mas preocupado também, escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, em 21 de agosto de 1939.

Sem perda de tempo , o presidente aprovou um projeto para a construção da bomba atômica antes que os nazistas a fizessem. Os Estadis Unidos ainda não haviam entrado na guerra (como sempre gostam de serem vistos como heróis só participam no final, basta lembrar da 1ª Guerra Mundial), mas precisavam preocupar-se com a possibilidade de ingressar seus soldados na Europa. Além disso, ainda havia outro problema a conter: a ambição nipônica (japonesa), que dava claros sinais de pôr em prática uma ofensiva contra os norte-americanos.

O PROJETO MANHATTAN

Einstein, ao contrário do que se pensa, nunca foi informado sobre o andamento do projeto, batizado de projeto Manhattan.
LeóSzilárd (1898-1964), físico húngaro, e Enrico Fermi passaram a trabalhar imediatamente na verificação da viabilidade da fissão nuclear em larga escala.
Szilárd já havia desenvolvido muitas experiências a respeito, para esclarecer melhor ele dizia o seguinte: quando o urânio é bombardeado por um nêutron, dividi-se e libera de dois a três nêutrons, junto com uma boa porção de nergia.

No entanto, os núcleos desordenavam-se, não sendo possível atingi-los novamente com os novos nêutrons. Segundo Szilárd, se os novos núcleos divididos do urânio pudessem ser contidos, juntamente com os nêutrons, uma sequência de novos bombardeios nucleares poderia ser feito, criando assim uma reação em cadeia.

Apesar de parecer simples, haviam muitos desafios a vencer para chegar a este resultado.
Fermi construiu, em 1941, um reator nuclear numa quadra de squash na Universidade de Chicago. Os primeiros experimentos provaram que, em circunstâncias normais, não havia meios de garantir a tal reação em cadeia. Uma variedade de perguntas começaram a rodear as cabeças dos cientistas.

Até que, por obra de insistentes tentativas, Fermi descobriu que bastões de grafite, inseridos no urânio, acabavam por diminuir a velocidade dos novos núcleos e dos nêutrons dando uma certa estabilidade, uma sequência de novos bombardeios nucleares pode ser feito, criando assim uma reação em cadeia, para entender em uma linguagem mais informal, mais simples, sei que os mais Caxias não irão gostar desta comparação mas aí vai: imagine uma sala lotada de ratoeiras armadas prontas para serem ativadas por um simples toque de um rato, ou até mesmo ratos (no caso Hiroshima e Nagasaki); muito bem, vou até a sala e jogo uma bola de pingue-pongue nesta sala. Resultado: haverá uma reação em cadeia com todas as ratoeiras.

Bem, saindo um pouco da explicação didática, voltemos a explicação técnica dos cientistas.
Haviam centenas de técnicos trabalhando no projeto, até que em 7 de dezembro de 1941, os japoneses atacaram Pearl Harbor. Os Estados Unidos, que até então atuavam como espectadores do conflito, agora entrariam de voadora na guerra.

O projeto teve seu ritmo acelerado e, em 2 de dezembro de 1942, o primeiro reator nuclear do mundo entrou em operação na antiga quadra de squash. O resultado foi excelente. No entanto, não seria possível produzir uma bomba do tamanho de uma quadra de squash com um indivíduo dentro, pronto para ligar uma chave de ignição, portanto era necessário adaptar a reação nuclear ao tamanho de um projétil, facilmente lançado de um avião, e que entrasse em operação automaticamente.

Dia desses li uma biografia de Winston Chuchill, e segundo o autor ele teria tido a brilhante idéia de criar a bomba atômica, infelizmente não encontrei a citação, porque são dois livros e com inúmeras páginas, mas o que o autor quis dizer foi assim segundo Churchill: algum dia haverá uma criação em que uma enorme quantidade de energia será posta dentro de uma cápsula do tamanho de uma laranja.

Profeta ou não, Winston Churchill realmente acertou quanto ao futuro da bomba, inclusive Sir Churchill foi uma das grandes figuras na 2ª Guerra Mundial, mas ele será tema em uma postagem futura...

A questão que estava argumentando era justamente encontrar a solução para lançar a bomba, para cada solução extraordinária que aparecia, os problemas também se mostravam mais complexos.

O governo dos Estados Unidos dedicou inicialmente 6.000 dólares para o Projeto Manhattan, no final o custo chegaria a dois bilhões de dólares.
De repente, o local do projeto transferiu-se para um vale deserto ao longo do rio Columbia. Haviam mais de 25.000 técnicos trabalhando, entre os quais Frank, o irmão de Robert. Os Estados Unidos estavam definitivamente determinados a construir a maior arma de todos os tempos.

O comando geral do projeto passou para as mãos dos militares, liderados pelo general Leslie Richard Groves (1896-1970), um nova-iorquino linha dura que estudou num dos colégios mais rígidos de todo o país: West Point.
Apesar de ser engenheiro militar e de ter participado da construção do Pentágono, Groves fazia mais o tipo ‘cobrador de resultados’, o que estou querendo dizer é que era necessário quem entendia do assunto, não um mero militar rígido que parece que engoliu um cabo de vassoura.

Era preciso uma outra pessoa, um físico competente que dirigisse o projeto, que conhecesse as mais brilhantes mentes dos Estados Unidos e que estivesse a par de todas as inovações da física nuclear.

De quem estou falando? Tentem adivinhar.

Para Groves só havia um homem para essa tarefa: Robert Oppenheimer.
Eles não se davam bem, mas talvez esta tenha sido uma das razões para o sucesso do projeto e tristeza dos japoneses, afinal, como no magnetismo, os opostos se atraem.

A primeira ação de Robert foi escolher um local amplo, onde detonações pudessem ser feitas. Ele sabia que o projeto não poderia ficar apenas na prancheta. Levou Groves para Los Alamos, a 56 quilômetros de Santa Fé, na Califórnia. Mais isolado do que aquilo, uma mistura de lugar onde o Judas perdeu as botas e onde o vento fazia a curva e ao mesmo tempo garantindo a logística do projeto, seria impossível.

Com o lugar escolhido e com a equipe de massa crítica formada (leia-se: cientistas), a primeira questão para transformar o reator nuclear de Fermi numa bomba portátil era a quantidade de urânio necessária. Pouca quantidade do material não seria suficiente para produzir a reação em cadeia.
À medida que a quantidade fosse aumentada, os cientistas puderam determinar a quantidade ideal, que deveria caber numa carcaça tradicional de bomba.
O que eles perceberam foi o seguinte: para automatizar a detonação deveria haver um explosivo simples dentro da bomba, uma espécie de gatilho que uniria duas massas de urânio.

A união faria com que os nêutrons se propagassem, explodindo os núcleos e produzindo a reação em cadeia. A quantidade de energia seria tão violenta que as mentes ainda duvidavam dos resultados: era preciso ver para crer (infelizmente isso aconteceu).
Outra questão era testar as explosões para se chegar a explosão devastadora que eles queriam.

Durante o verão de 1943, os espíritos indígenas de Los Alamos devem ter sido acordados, não, não estou sendo irônico, até mesmo porque o poder de destruição era aterrador e se outro homem estivesse sido escolhido para coordenar o Projeto Manhattan, talvez os japoneses estivessem à salvo.
Finalmente a bomba foi batizada de Fat Man, um sugestivo nome infantil, que não inspirava nenhum tipo de perigo. Descobriu-se que, para garantir a explosão à alta velocidade e ordenar o fluxo de divisão de núcleos, reações químicas deveriam ser produzidas dentro da bomba.

Foi quando o físico Arthur Holly Compton surgiu com o plutônio, apresentando suas características físseis.
Mas o plutônio representava um imenso perigo em seu manuseio. Por emitir uma imensa taxa de partículas alfa, que são absorvidas diretamente pela medula óssea, causando leucemia, uma quantidade acima 0,13 miligramas é fatal para um ser humano.

E enquanto isso, as notícias de que os alemães estavam num estágio avançado da construção de sua bomba nuclear deixavam todos com os nervos à flor da pele e o pior, explosões fracassadas em Los Alamos tiravam Robert do sério pela primeira vez.

Robert resolveu investir seu tempo e paciência no trabalho com o plutônio, que liberava uma grande quantidade de nêutrons, realmente ele queria acabar com os nipônicos.
Se me permitem uma comparação, até pior do que Hitler fez com a cidade de Guernica em 1936 bombardeando e “testando” seu poderio bélico.


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A morte da executiva bem-sucedida

Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou-se. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.

Ainda meio tonta, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava a acontecer, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:

- Enfermeiro, eu preciso voltar com urgência para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque o meu seguro de saúde é Platina, e isto aqui está a parecer-me mais a urgência dum Hospital público. Onde é que nós estamos?

- No céu.

- No céu?...

- É.

- O céu, CÉU...?! Aquele com querubins, anjinhos e coisas assim?

- Exato! Aqui vivemos todos em estado de graça permanente.

Apesar das óbvias evidências, ausência de poluição, toda a gente a sorrir, ninguém a usar telemóvel, a executiva bem-sucedida levou tempo a admitir que havia mesmo batido a bota.

Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana iria receber o bónus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.

E foi aí que o interlocutor sugeriu:

- Talvez seja melhor a senhora conversar com Pedro, o coordenador.

- É?! E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?

- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)

- Quem me chama?

A executiva bem-sucedida quase desabava da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.

Mas, a executiva tinha feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu logo:

- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...

- Executiva... Que palavra estranha. De que século veio?

- Do XXI. O distinto vai dizer-me que não conhece o termo 'executiva'?

- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.

Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.

- Sabe, meu caro Pedro. Se me permite, gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para essa gente toda aí, só na palheta e andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistémica.

- É mesmo?

- Pode acreditar, porque tenho PHD em reorganização. Por exemplo, não vejo ninguém usando identificação. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?

- Ah, não sabemos.

- Percebeu? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar em anarquia. Mas podemos resolver isso num instante implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.

- Que interessante...

- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.

- !!!...???...!!!...???...!!!

- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Accionista... Ele existe, certo?

- Sobre todas as coisas.

- Óptimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, parece-me extremamente atractivo.

- Incrível!

- É óbvio que, para conseguir tudo isso, teremos de nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias da praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho a certeza de que vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar num Turnaround radical.

- Impressionante!

- Isso significa que podemos partir para a implementação?

- Não. Significa que a senhora terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque acaba de descrever, exactamente, como funciona o Inferno...

Max Gehringer
(Revista Exame)